Resistênica e Pandemia

E por falar em resistência…em tempos de Pandemia

A militância no campo da saúde mental conta com alguns bons anos e, desde a reforma psiquiátrica brasileira (2001), muito se fez pelo reclame da cidadania aos usuários de saúde mental no Brasil.

Luta árdua, tão desigual quanto todas as nossas desigualdades… mas que contabilizou vitórias inestimáveis. E no “vai e vem” de nossas batalhas, conquistamos o mercado formal de trabalho para essa população. Primeiramente, obtivemos um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o MPT/RJ e a empresa PREZUNIC/RJ (/2010), que se mostrou a primeira medida protetiva para garantir a inclusão desses cidadãos no trabalho formal. Depois disso, em 2012, foi a vez da inclusão de pessoas com transtorno mental na Lei 8213/91, ou Lei de Cotas, segundo critérios da Convenção da ONU (2006) da qual somos signatários. E isso, graças ao trabalho incansável do MPT/RJ, nas vozes de duas procuradoras, Lisyane Motta e Luciana Tostes.

Essa foi mais uma página na história de Saúde Mental no Brasil que nos permitiu revisitar o fenômeno da loucura a partir desse novo lugar social a ser ocupado pelos nossos “loucos”.

Pois aqui chegamos, 2020, já abatidos pelos últimos e nefastos resultados sociais e políticos desde o golpe de 2016 com nova reforma trabalhista e previdenciária que retirou direitos fundamentais à classe trabalhadora, mas particularmente atingidos por uma PANDEMIA e pela virulência de um desgoverno assumido pela atual gestão presidencial.

PANDEMIA… traduzida como “enfermidade epidêmica amplamente disseminada” pegou o mundo de surpresa e vem dizendo a que veio.

Estamos sendo atacados pelo COVID-19 e, sem nenhum constrangimento esse vírus vem dizimando populações sem qualquer distinção de classe, cor ou credo. Temos hoje um mundo devastado e falido por um corona vírus que elegeu os humanos como alvo (ainda que a “natureza” agradeça). 

E como já dizia Caetano, “alguma coisa está fora da ordem” e parece que esse poderá ser um novo mantra para as próximas decisões mundiais. A ganância do capital tem sido escancarada e até desmoralizada pela mesma elite que a produz… nunca ficou tão claro que o efetivo “capital” mundial é a força de trabalho. Nunca ficou tão claro que os “bens materiais” se resumem a nada, caso não haja gente circulando, produzindo, consumindo… E nesse lamaçal frio, abjeto e descarado do “rentismo”, fica estampado que apenas a generosidade, a solidariedade, a empatia e particulares “forças de trabalho” serão capazes de vencer mortes.

Seguindo os protocolos da OMS, hoje, Estados e Municípios no país, mantém shoppings, restaurantes, cinemas, ACADEMIAS e tudo que implica “aglomeração de pessoas” indisponíveis ao consumo sob risco de vida. Ficam aqui excluídos os tais SERVIÇOS ESSENCIAIS, ou os hospitais, farmácias, petshops, supermercados e mais alguns poucos serviços que se dispõem abertos para garantir mínimas condições de consumo essencial e sustentabilidade social.

Pois, todos os profissionais envolvidos com esses serviços essenciais estão dedicando e colocando suas vidas em risco por um objetivo caro à humanidade: a preservação da vida (mais do que a preservação do capital.)

E é nesse contexto que se deve ressaltar que no time de profissionais indispensáveis estão incluídos alguns trabalhadores formais, usuários de saúde mental, assumindo suas tarefas em supermercados para prestar um importantíssimo serviço à sociedade.   

Estamos precisando de “heróis”? Estamos precisando agradecer e dar o devido reconhecimento a todos os profissionais expostos à morte para nos proteger? Pois, ainda que nada saibamos sobre o futuro próximo das nações, dos destinos da humanidade, ou mesmo antes que esse mundo acabe, que apenas façamos aqui, e agora, o justo reconhecimento também a esses bravos brasileiros, usuários de saúde mental, saídos dos porões do anonimato e da exclusão social, para hoje, precisamente hoje, entrarem para a história como TRABALHADORES ESSENCIAIS na manutenção da vida e no combate à Pandemia.